25 de mai. de 2009

Povo marcado, povo feliz

Histórias de vida construídas sobre o chão de terra. Paredes de madeira, frágeis, às vezes úmidas. Crianças correm sem camisa com os irmãos. A lâmpada mal encaixada no bocal ilumina o cômodo. Ler é luxo. Cinema? Há anos não vão. A TV resolve. Distrai.

Pegar no pesado é normal. Jovens empurram carrinhos de mão, carregam sacos nas costas, sabem resolver qualquer problema elétrico ou de construção. O que não tem em estudo, compensam em disposição para o trabalho e, na maioria das vezes, no caráter, na honestidade. São pobres, mas não seguem o caminho mais fácil. Não roubam. Preferem pedir, mesmo que seja para o vizinho cuja situação não é tão melhor. Se ajudam. Vivem.

O clima, apesar das dificuldades, é de harmonia. Jogam sinuca, tomam cerveja, fazem um churrasco para reunir os amigos. As vielas não são problema. Os convidados sabem muito bem chegar ali.

As roupas de marca são valorizadas. Usar um tênis caro ou uma camisa conhecida dá status. Gostam de se arrumar. Também há vaidade ali.

As crianças crescem, se envolvem, aumentam a família. Um cantinho é construído do lado ou em cima do barraco dos pais. O tempo vai passando e as oportunidades são poucas para sair dali. Acabam ensinando a todos, sem perceber, uma grande lição. Conseguem ser felizes, apesar das dificuldades.

15 de mai. de 2009

Cenas da metrópole

Anoitecia. Na avenida movimentada, pessoas encasacadas circulavam em direções opostas. Tempo fechado, a garoa ameaçava cair. O termômetro no canteiro central marcava 13º. A pressa de todos já não era tanta. É sexta-feira. Para muitos, encerrou-se o último dia de trabalho da semana.

Encostado em um muro, um homem toca "Yesterday" no saxofone. O som transforma a metrópole por alguns instantes em uma cidade europeia. Frio, gente bem vestida, música boa. Pena que ao atravessar a rua já não se pode mais ouvir.

Outra cena salta aos olhos. Um idoso cai no meio da calçada. A muleta fica longe de seu alcance. Magro, negro, de casaco cinza, mãos e pés marcados pelo tempo. Começa a tremer. Está bêbado? Sofrendo um ataque epilético? Ou é um golpe para assaltar? As hipóteses são levantadas pelos que passam, olham e seguem seu caminho.

Uma mulher grita repetidamente "Moço, ajuda ele", para os pedestres. Medo e indiferença fazem seus apelos não serem ouvidos. O homem ficou para trás. São Paulo não para.

14 de mai. de 2009

Fugas

Vive fugindo, de várias formas. Foge das tarefas indo pra academia. Foge da academia dizendo que tem muitas tarefas a cumprir. Se refugia delas na cozinha. Esquece da vida, sente-se seguro lá.

No computador, perde-se em emails pessoais, orkut, youtube, pesquisas sobre algo que resolve começar e não termina. Lapsos de vontades que nada mais são do que novas fugas. Tudo para consumir o tempo e não dar de cara com as atividades. Gosta do que faz, é feliz com seu trabalho mas, em casa, quando deveria cumpri-las, foge, não sabe o por quê. Seu desafio? Fazer o dia render e encarar com disciplina tudo. Deixa-se seduzir pela cama, pela internet, pelos papos efêmeros via msn, pela TV.

No ritmo atual, o dia precisaria ter 40 horas para dar conta de tudo. Mas ele promete resolver as pendências em um final de semana. E ficará frustrado caso não concretize a meta. Por hoje já está melhor. Acaba de terminar uma das tarefas que há tempos prometia.